terça-feira, 22 de julho de 2014

O ano perdido


" Dia 11 de fevereiro de 2013. Há pouco mais de 9 meses eu entrava num avião com uma única certeza: a incerteza! Trocava uma "formatura-certa" e um "futuro-certo" por um intercâmbio para um lugar que eu nunca tinha ido, nunca tinha ouvido falar e nunca tinha pensado em estar.
Alguns chamaram de loucura, outros de coragem. Eu já nem tentava nomear. O que antes era sonho, já era quase fato no dia do embarque. O que seria, então? Meus pais chamavam de "investimento no meu futuro" (mas... não seria presente?). Era muita justificativa para uma só opção: subverter a ordem das coisas na sociedade! (Como assim, você não vai se formar no "tempo certo"?).
Os pessimistas chamaram de "Ano Perdido". A eles eu dedico o meu post. Eles estavam certos: eu, realmente, perdi muito esse ano!
Primeiro de tudo, eu perdi MAIS um ano normal na faculdade, imaginando como seria aquele mundo de que eu tanto ouvia falar, mas conhecia apenas uma insignificante parcela. Eu perdi de passar mais um ano pensando "E se...?." Eu perdi um ano de desejar ser uma pessoa em intercâmbio. Eu perdi um ano de reclamações. Eu perdi um ano de atormentar os meus amigos e familiares com o meu mau humor e frustração. Eu perdi de passar um ano num lugar, achando que meu lugar era outro. Eu perdi uma formatura que me traria mais infelicidade que satisfação.
E tem mais!
Eu me perdi pela Europa, eu me perdi pelo mundo. Dei um pulinho na Ásia, só pra sentir o gostinho do - ainda mais - diferente. E querer voltar. Eu me perdi pelas ruas de todas as cidades que visitei, principalmente Barcelona!
Eu me perdi pelos meses, pelas semanas e pelas horas. E, só não me perdi mais, porque as estações do ano estavam sempre lá, dispostas a lembrar que os tempos estavam sempre dispostos a mudar, do mesmo modo que eu mudava.
Eu perdi ônibus, perdi trem, perdi avião. Sim, eu perdi! Eu também perdi o sentimento de perda. Esse - que eu já começara a abandonar quando decidi vir para a Croácia - continua se perdendo em casa viagem, em casa conversa, em casa pessoa, em casa história de vida que eu não conheceria se tivesse continuado abraçada ao comodismo.
Eu perdi o medo. E esse, esse foi o mais difícil de perder. Às vezes ele visita, tenta se agarrar de volta, mas não demora a ser expulso. Perdi o medo da estrada, perdi o medo da solidão, perdi o medo do futuro. Eu perdi o medo da vida, eu perdi o medo da sociedade. E esse foi o mais lindo dos medos perdidos. Não, eu não ouvi falar. Eu vi. Eu vi que nesse mundo tem - SIM! - gente capaz de fazer o bem pelo bem. E isso trouxe a esperança de volta. Ah, a esperança! Mas, peraí, essa entra nos ganhos. E esse texto é sobre perdas, certo? Melhor parar por aqui...
Ah, eu também perdi o apego material. Claro que, infelizmente, ainda não totalmente. Sim, ainda lentamente, ele se esvai. Ele se vai. Ao longo de todo o processo anterior ao intercâmbio e ao longo do próprio intercâmbio. Primeiro por uma questão de racionamento de dinheiro e, pouco a pouco, por uma questão de consciência. As coisas materiais acabaram por se tornar simplesmente... materiais. Apenas da matérias, elas carecem de substância!
É a ral da filosodfia da banana, que minha grande amiga, companheira, aventureira desse ano de filosofias, viagens e aventuras, Jana Maurer, bem nomeou e descreveu aqui. E isso só entende e concorda quem já sentiu a sensação de ter a "vontade de conhecer" mais pesada que a "mochila nas costas". É incrível como o "ter" se torna totalmente substituível pelo "conhecer". 
E, finalmente, alguns irão argumentar: mas, e os momentos com seus amigos e familiares que você, efetivamente, perdeu? Aqui, eu reconheço, eu perdi. Mas, com isso, eu (re)conheci o que e quem eu realmente sinto falta nos meus dias. Eu (re)conheci o que realmente é importante pra mim no Brasil e/ou em qualquer lugar do mundo: pessoas, afeto, laços, momentos, que se criam e renovam no tempo. Ops! Esses são, de novo, ganhos e não perdas.
E aí eu chego à última e mais importante da lista (não exaustiva) de perdas: eu perdi o lado negativo da vida. Perdi essa mania de ver tudo pela ótica da perda. Porque, no fim, toda perda tem seu ganho. Você só estava cedo demais pra enxergar. E aí, eu também perdi a cegueira. Cegueira de achar que eu era incapaz de narrar minha própria história.
Pois é. Eu perdi muito. "

Texto: Ligia Tosetto do Prado 


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Ser Intercambista


"Não fui intercambista durante um ano. Eu sou intercambista pelo resto da minha vida. Intercâmbio não é apenas um ano no exterior, é um modo de vida. Estar em intercâmbio é aprender como viver sendo intercambista. É aprender a olhar o mundo de outra maneira. É aprender que o mundo é pequeno o bastante que cabe em seu coração e o seu coração é grande o bastante que além de caber o mundo, cabem todas as pessoas que estão dentro dele.

É aprender que você nem sempre tem a resposta para tudo e que nem tudo tem resposta.

É aprender a conviver consigo mesmo e a viver com as outras pessoas. É aprender que você não precisa de companhia para todas as horas e que momentos inesquecíveis também podem ser compartilhados apenas com você e a sua máquina fotográfica. E que outras vezes é bom compartilhar outros momentos inesquecíveis com pessoas inesquecíveis.

É aprender a dar valor a saudade, e que um "tchau" pode ser interpretado com um "See you later!".

É entender que não existe melhor ou pior, mas existe o diferente.


É perceber as pequenas nuances do mundo. Aquelas que antes eram imperceptíveis, e perceber também que você é capaz de tudo, mas é também capaz de nada.

É descobrir que você não precisa agradar a todos e que nem todos precisam lhe agradar. É entender como você é, e não precisar provar isso a ninguém.

É descobrir que uma tarde de domingo só é tediosa se você quiser que seja, e que deitar na cama não significa descanso.

É saber dar valor a um sorriso, um abraço, uma lágrima. É conseguir compreender uma pessoa complicada. E que viver em sociedade significa ter 2 ouvidos e apenas meia boca.

É descobrir que você é a única pessoa que estará ao seu lado para o sempre e não se lamentar por isso. É entender que existem leis na vida e que uma delas é que tudo acaba. Tudo sempre acaba. É não espernear por isso, por tudo, realmente acaba.



É descobrir que um filósofo estava certo quando ele disse que nós nunca nos banhamos no mesmo tio 2 vezes e entender que só o tempo encaixa todas as coisas nos seus devidos lugares.

É descobrir que melhor amigo não é aquele que está em todas as horas ao teu lado, mas é aquele que quando olha em seus olhos sabe o que você sente, e que 10 minutos em silêncio valem mais do que 3 horas de conversa.

Ser intercambista é ter a alma sadia e um sorriso no rosto. É dividir experiências e viver mais outras tantas. E que apesar das derrotas, dos momentos ruins, a vida é cheia de felicidade. Aquele felicidade que vem de dentro.

Intercambista vive a melhor época da vida.

Quem disse que a infância é a melhor fase da vida, é porque nunca foi Intercambista!

'Guardo as recorações
Das terras por onde passei
E dos amigos que lá deixei' "

Texto de autor desconhecido

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Vida de Intercambista

   Encontrei esse texto no Blog das 30 Au Pairs, ele é perfeito e retrata um pouco dessa loucura emocional que é ser au pair :)


"Essa vida de intercâmbio é bem parecida com uma montanha-russa! Primeiro você fica olhando de longe, tentando decidir se vai ter coragem ou não de ir... Aí você pega opinião de quem já foi e escuta histórias que te animam e outas que te desanimam e seria melhor nem ter escutado. Então, quando você resolve arriscar, porque entende que nunca vai viver emoção parecida como aquela se não topar, você espera um tempão numa fila, antes de finalmente conseguir embarcar. Nesse tempão, sua ansiedade aumenta e você até pensa em desistir! Onda já se viu você estar pagando pra entrar e ainda ter que esperar tanto?! Podia estar fazendo outras coisas, gastando sua energia de outras formas. Aí, tem que escolher o lugar que vai estar durante aquela aventura. Mas, muitas vezes, não é o lugar que você queria! Alguém na sua frente deu mais sorte que você. Mas tudo bem! Mesmo assim você vai... E quando finalmente chega a sua vez, você reza! Porque percebe que daí pra frente, só Jesus na causa pra te ajudar, já que não dá mais pra pular fora. 
No começo, é muita informação pra sua cabeça e você acha que vai explodir! Porque ninguém consegue assimilar tanta coisa naquela velocidade toda. Aí você se pergunta "como eu vim parar aqui?". Aí você vai subindo, subindo, vai dando aquela sensação gostosa, você dá risadas incríveis, sorri pra câmera que está sempre registrando cada momento que você passa ali, e de repente, o negócio para. Aí você percebe que o bicho vai pegar! E talvez você não fosse tão corajosa quanto imaginava. Talvez seria melhor não ter ido, e escutado a mãe que te questionou "vai correr esse risco?". E bate o medo! Mas aí é tarde demais... Você já está lá e não tem mais pra onde fugir. Se bem que se conseguisse sair antes de piorar, se tivesse um jeito de conseguir escapar... No, never mind! Isso não ia prestar. Você não pode desistir depois de ter chegado tão longe! Só tem um jeito: segura na mão de quem estiver do seu lado, sendo cúmplice naquela jornada insana, e vai. Vai com tudo! Pensa no que te fez chegar até ali: a sede por novas emoções, a busca por algo que você nem sabia o nome, a fuga daquela vida parada que já não estava te acrescentando nada... E vai! Rezando pra que dê certo. Rezando pra que não se arrependa. Rezando pra que sua amiga não te decepcione e solte sua mão, porque se isso acontecesse você não saberia o que fazer.
Bem lá de cima, você escuta um choro. Você escuta gente falando "para isso que eu quero descer!". Mas você não desce. Você repete pra si mesmo "se tantas pessoas conseguem, porque eu não vou conseguir?". Aí você vai. Fecha os olhos, pede pra tudo isso acabar logo e vai. No meio daquela decida radical, você xinga! Fala palavrões que você nem sabia que existia, em outra língua até, e vai. Se questiona por que tinha que sair de casa pra passar por isso, mas vai. Perde o fôlego, mas vai. Continua descendo porque sabe que foi você que quis estar ali in the first place! Ninguém te obrigou... Até falaram que ia ser difícil. Mas caramba, porque ninguém falou que seria tão difícil?! Muita falta de sacanagem. Mas agora é tarde... E aquela descida acaba, e você continua sua aventura aliviada, porque depois da tempestade sempre vem a calmaria, né? Então você aproveita o passeio. Vê coisas incríveis e sabe que a câmera não vai ser capaz de capturar tudo aquilo. E deseja que seus olhos pudessem tirar fotos! Porque só assim aqueles que não embarcaram com você vão conseguir ter uma noção do que você está vivendo. Uma vaga noção, né? Porque só quem foi sabe realmente como é... Mas seus olhos infelizmente não tiram fotos, e aquelas pessoas vão ter que acreditar na sua palavra quando você lhes contar. Mas, ah! Vão faltar palavras pra descrever o que você está vivendo... É que você está vivendo muita coisa ao mesmo tempo! Aí, quando você pensa que já viu tudo, que já se adaptou, e dali pra frente vai tirar tudo de letra, acontece algo totalmente inesperado. Aquele negócio faz uma virada brusca, tira seu cabelo do lugar, a câmera te pega num ângulo que não te favorece, e quando você percebe, você está de cabeça pra baixo! Aí você se lembra de uma autora que disse que quando a vida a virou do lado avesso, ela percebeu que o avesso era o lado certo... E você começa a desconfiar que no seu caso, talvez de ponta cabeça seja seu lado certo!
E de repente, a montanha-russa para. E quando para, você tem vontade de gritar "eu quero bis!". Mas já é tarde... Não dá mais. E você desce. De pernas bambas, lágrimas nos olhos, com os pensamentos confusos e o coração carregando sentimentos contraditórios - tão bons e tão ruins... Aí você olha pra trás, lembra de tudo que viveu, e tem então a certeza: foi difícil, você sofreu, teve uma hora (ou várias horas) em que se arrependeu, mas no final você sobreviveu, valeu a pena e você faria tudo de novo! E de novo."

Autora: Karolyna Junqueira